Pular para o conteúdo

Jeovany Negócio

Sonhador

Sempre fui um adolescente sonhador, adorava ler e conversar sobre pessoas que fizeram a diferença no mundo. Nelson Mandela, Barack Obama e Henri Ford eram alguns dos meus ídolos.

Raízes

Morava na cidade de Lobito e enfrentava diariamente 30km de jornada para chegar à escola. Já era um apaixonado por tecnologia e informática, mas acabei por fazer mecânica.

Raízes

Morava na cidade de Lobito e enfrentava diariamente 30km de jornada para chegar à escola. Já era um apaixonado por tecnologia e informática, mas acabei por fazer mecânica.

Crise do Petróleo

No final do ensino médio foi anunciado na TV pelo presidente que 2014 seria um ano de muitos desafios para os angolanos, em outras palavras, a crise do petróleo e do dólar chegou.

O petróleo representava 98% das exportações da nossa economia. Ao terminar os meus estudos, me vi sem perspectiva e diante de um país em colapso. Sem orientação, eu perguntava-me: ”o que vou fazer agora?”

Aquela época foi tão difícil que até as refeições nas casas das famílias angolanas mudaram. Já não se comia tanto como antes. Tentei entrar na faculdade pública. Não consegui. O meu pai queria que eu fizesse concurso para ser militar, eu não aceitei, a minha mãe disse-me para fazer concurso público para ser professor, também não aceitei.

Dificuldades & Oportunidades

Sem condições de ir para uma instituição privada, só me restou seguir para um caminho autodidata. Comecei a frequentar bibliotecas e utilizar os computadores desses espaços para estudar sozinho.

Foi nesse momento que percebi as vantagens do autodidatismo: eu poderia focar em aprender o que de fato fazia sentido para a realização dos meus sonhos.

Comecei a estudar tecnologia e a fazer contatos com pessoas do mundo inteiro via comunidades digitais. Foi nesse momento que dei de cara com um anúncio de uma palestra sobre Linux em Luanda, era um momento de crise, então esse evento foi criado para mostrar o sistema como ferramenta gratuita para transformação digital das empresas.

Empolgado com a oportunidade, rapidamente fiz minhas malas e parti para a capital.

Ao chegar no evento, sentei ao lado de um senhor – ele que um ano depois viria a mudar completamente a minha trajetória – o Senhor Mário. Como sentei ao lado dele conversamos durante todo o evento, naquela oportunidade eu percebi ter uma grande facilidade de gerar conexões e senti que algo especial estava acontecendo ali.

Voltei para Lobito e após alguns meses finalmente consegui entrar na faculdade.

Achei que tinha encontrado o meu caminho, mas após começar a estudar, surgiu um conflito interno, eu já sabia que eu era autodidata e já não me via no sistema de ensino tradicional, era tudo muito lento e totalmente fora dos meus sonhos e aspirações, eu ficava muito frustrado ao final de cada aula e usava o meu tempo livre para ler sobre economia, filosofia, programação, etc.

Eu simplesmente não me via naquele lugar, apesar de ter alguns bons amigos que carrego até hoje.

Foi diante desse momento de frustração que recebi uma ligação do senhor Mário, o Senhor que havia conhecido na palestra. Ele me propôs que eu me juntasse a ele e sua equipe ocupando a vaga de aprendiz em sua empresa.

Essa oportunidade ajudou-me na decisão de largar a faculdade, fora a insatisfação que já tinha. Ali percebi que poderia viver em Luanda e dedicar-me ao que eu realmente queria para minha vida.

Os meus pais apoiaram-me muito, foi um momento de incerteza para mim…

Era uma oportunidade numa área quase desconhecida no mercado angolano naquela época, ainda mais para a minha família que nunca teve referências para entender no que eu realmente metia-me. Mesmo assim nos unimos e nos arriscamos. Poucos meses depois eu estava em Luanda pronto para começar uma carreira na área de redes de computadores.

Agora, imagina só...

Lá estava eu… 18 anos, sem faculdade, me arriscando numa profissão nova, numa cidade grande e desconhecida para mim, com um mundo de possibilidades para descobrir. Eu só sabia o que eu queria, tinha foco e determinação para buscar. Mesmo com toda essa garra, eu não tinha dinheiro suficiente para me manter. Por sorte não precisei pagar aluguer, pois vivia na casa do meu tio. Dei o meu melhor para a empresa e aproveitei o ambiente que eu estava para buscar novas fontes de conhecimento e networking.

Foi quando comecei a ver um novo movimento da comunidade de programadores em Luanda e comecei a sentir-me excluído, eles falavam mais de programação do que de Linux e infraestrutura, então senti a necessidade de fazer um curso de programação de aplicativos para Android na BukaApp.

Contudo, o horário do curso era impossível de conciliar com o meu horário de trabalho. Tentei manter as duas atividades, mas não consegui. A questão ficou insustentável, então, eu decidi pedir demissão e dar um novo rumo na minha carreira. Comecei o curso que tinha estágio de trabalho para o melhor aluno do curso e logo me vi dentro do movimento de TI em Angola.

A Bukapp era uma startup focada em ensinar programação. Ela estava no início e eu queria algo que me desse mais estabilidade, mas acabei por aceitar a proposta do Carlos Jaime – CEO da BukaApp – e fiquei por lá quase 3 anos como júnior de programação.

Este foi um momento marcante para mim, onde pude desenvolver ainda mais minha capacidade de aprendizado, tinha a oportunidade de organizar eventos e ensinar tecnologias que eu dominava. Me vi encantado.

Foi ali que eu finalmente me encontrei. Pude conhecer pessoas de vários lugares de Angola e não só, pessoas realmente interessadas em mudar o mundo e fazer a diferença no meu país. Na BukaApp eu pude desenvolver muitas habilidades como: networking, empreendedorismo, tecnologia e desenvolvimento pessoal.

Em 2018 em um dos eventos que ajudei a organizar, o GDG Luanda, conheci o José Neto – diretor de operações da Angola Telecom (na época) – em 2019 organizamos o primeiro Meetup presencial sobre Bitcoin em nossa cidade. Foi um sucesso!

Foi nesse evento onde o Nazih Caetano conheceu-me, na altura ela era o diretor comercial e financeiro da Rikauto. Em 2020 diante da pandemia, ele apresentou-me uma planilha sobre análise e projeção financeira que ele usava nas consultorias que dava em algumas empresas.

Foi a partir dessa planilha que tive a ideia de nos juntarmos para oferecer uma formação aos jovens sobre finanças e investimentos. Eu tratei de todo marketing e operações. E de novo graças ao meu networking nós conseguimos encher as turmas. Hoje o Nazih continua com essa turma em parceria com a BukaApp.

Esses trabalhos acabaram por nos abrir muitas portas.

Foi diante desse momento de frustração que recebi uma ligação do senhor Mário, o Senhor que havia conhecido na palestra. Ele me propôs que eu me juntasse a ele e sua equipe ocupando a vaga de aprendiz em sua empresa.

Essa oportunidade ajudou-me na decisão de largar a faculdade, fora a insatisfação que já tinha. Ali percebi que poderia viver em Luanda e dedicar-me ao que eu realmente queria para minha vida.

Os meus pais apoiaram-me muito, foi um momento de incerteza para mim…

Era uma oportunidade numa área quase desconhecida no mercado angolano naquela época, ainda mais para a minha família que nunca teve referências para entender no que eu realmente metia-me. Mesmo assim nos unimos e nos arriscamos. Poucos meses depois eu estava em Luanda pronto para começar uma carreira na área de redes de computadores.

No final de 2022. Eu fui convidado para ser um dos embaixadores dos internatios, um clube privado de eventos e networking que procura reunir mentes globais de todos os países, normalmente nos eventos aparecem pessoas de mais de 30 países. Nesses eventos eu tive a sorte de me juntar a pessoas mais velhas e com ricas experiências de vida e pude aprender de tudo um pouco.

Não tenho qualificação acadêmica para todos os projetos e trabalhos que fiz e faço, eu apenas tenho ousadia para tentar, para buscar, para me fazer presente, procuro entender as regras do jogo e reinvento-me.

O que eu quero dizer com isso é que não importa o trabalho, se você não for qualificado, qualifique-se. Se você nunca fez isso antes, então faça pela primeira vez e depois pela segunda, e de novo e de novo.

Às vezes criamos o medo de forma artificial, o nosso cérebro tem o péssimo hábito de criar tempestade no copo de água. Devemos assumir riscos em prol das nossas carreiras mesmo com a incerteza.

Hoje sou consultor de TI de uma multinacional, sou investidor e tenho negócios no Brasil, Angola e nos EUA.

Essas conquistas vieram graças a minha força de vontade, a minha busca desenfreada, a vontade de aprender e ir além, a minha capacidade de me relacionar com pessoas, e especialmente a mentalidade que fui construindo ao longo do tempo.

Ao repensar a minha história eu vejo que uma crise não é capaz de nos limitar, a falta de recursos não é capaz de nos limitar. Geralmente somos nós que colocamos limites em nós mesmos.

Hoje eu consigo ver o quão valeu pena eu ter feito e que eu fiz mesmo as vezes não tendo a certeza do que realmente queria ou no que daria.

E é isso que me refiro quando falo da importância da ousadia. Tudo o que você deseja está do outro lado do medo. Seus sonhos mostram quem você é, e ousar é agir na sua identidade. Que minha história possa te inspirar a mudar sua realidade.